CEFIA
O Centro de Pesquisa em Filosofia da Inteligência Artificial e Futuro da Humanidade possui os seguintes objetivos: a) consolidar o desenvolvimento do CEFIA, projeto vinculado às pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Filosofia em parceria com outros PPGs da PUCPR; b) efetivar a atuação do CEFIA a partir de acordos de colaboração com outros centros de pesquisa multidisciplinar, entre os quais o TEC Technology Ethics Center (University of Notre Dame), o Future of Humanity Institute (University of Oxford), o Centre of Philosophy (CFUL, University of Lisbon), o The Posthumanism Hub (University of New York) e o GIFT-H+ Grupo de Investigações Filosóficas sobre Transumanismo e Biomelhoramento Humano (FIOCRUZ-RJ); c) apoiar visitas de interesse técnico e acadêmico dos pesquisadores do PPGF aos locais anteriormente mencionados, de seus pesquisadores membros e estudantes vinculados à outras Instituições de Ensino; d) fomentar publicações e eventos multidisciplinares para disseminar os resultados das pesquisas em filosofia que estejam vinculadas a questões em áreas como educação, direito, ciência da computação, psicologia, entre outras.
O legado da tradição cartesiana, de modo geral, foi responsável por cindir a cognição de outros fenômenos e processos, como o corpo e o ambiente. Essa separação acabou tornando o tema da subjetividade um elemento desenraizado da profunda simbiose biotecnológica entre nossos cérebros e os artefatos não biológicos.
O avanço das Ciências Cognitivas — especialmente da Filosofia da Mente e de suas preocupações epistemológicas e éticas — coincide com o progressivo abandono da velha dicotomia cartesiana entre mente e corpo. Essa mudança leva à recusa da tese de que os mecanismos da cognição e os argumentos sobre a ideia de self possam ser encontrados apenas “dentro da pele ou do crânio” (Clark, 2008; Theiner; Allen; Goldstone, 2010; Hutchins, 2011; Gallagher, 2013).
Entre as abordagens que se destacam nesse contexto, está a cognição incorporada (Embodied Cognition), cada vez mais presente nas produções acadêmicas e sustentada por diferentes proponentes e variações. Nesse entendimento, cognição, corpo e mundo tornam-se interdependentes. No Programa de Pós-Graduação em Filosofia da PUCPR, as pesquisas sobre cognição incorporada defendem que a possibilidade de modificar o ambiente, por meio da ação dos organismos, confere aos artefatos a característica de “suportes cognitivos”. Esses suportes passam a integrar operações cognitivas estendidas, incorporando estruturas e processos externos às rotinas cognitivas de um agente.
Essa hipótese implica reconhecer que os seres humanos são permeáveis não apenas no plano biológico, mas também no plano cognitivo, incorporando aparatos externos não biológicos (Varela; Thompson; Rosch, 1991; Hutchins, 1996; Thompson, 2007; Shapiro, 2011). Isso não significa que elementos externos desempenhem funções idênticas às do organismo biológico, mas sim que suas codificações podem se integrar profundamente às estratégias de raciocínio, ao desenvolvimento de habilidades motoras e às operações cognitivas moldadas ao longo da história evolutiva e cultural da humanidade.
Dessa perspectiva, a cognição situada — da qual a cognição incorporada faz parte — sustenta que mentes e selves estão distribuídos pelo cérebro biológico e por circuitos não biológicos. Assim, a ideia de um limite rígido entre “onde a mente termina e o mundo começa” revela-se epistemologicamente ingênua. A fusão biotecnológica da cognição com redes de símbolos, cultura e tecnologia constitui um hibridismo entre a natureza biológica humana e um ecossistema linguístico, cultural e tecnológico multifacetado.
Tendo como objeto de investigação essa arquitetura de problemas, este projeto também se volta aos desafios éticos relacionados à Convergência Tecnológica (Technological Convergence), à Cognição 4E (Embodied, Embedded, Enactive and Extended) e ao Aprimoramento Humano (Human Enhancement). Ao recusar as abordagens tradicionais das Ciências Cognitivas — que tratam a cognição como produto exclusivo do organismo biológico —, busca-se compreender como as interações entre procedimentos tecnológicos e a hipótese da cognição incorporada redesenham o debate sobre transumanismo, tecnofobia e concepções clássicas de identidade, subjetividade e responsabilidade.
O CEFIA, fundado em março de 2025, tem como missão abordar a relação entre direito, ética e inteligência artificial (IA), enfrentando a complexidade e os desafios impostos pela opacidade dos sistemas algorítmicos. A metáfora da “caixa-preta” da IA expressa a dificuldade de compreender processos internos de sistemas que frequentemente operam de forma autônoma e sem transparência, levantando preocupações éticas e jurídicas relevantes.
No campo jurídico, a opacidade algorítmica contrasta com a necessidade de transparência e explicabilidade para assegurar justiça e responsabilização. A falta de clareza não apenas dificulta a justificativa de decisões automatizadas, mas também pode perpetuar vieses e discriminações — especialmente em áreas sensíveis, como o Judiciário, onde decisões sobre liberdade condicional ou concessão de crédito podem ser influenciadas por processos obscuros.
A ética aplicada à IA requer evitar dois riscos principais: o “determinismo encantado” e a “ditadura do passado”. O primeiro refere-se à ilusão de que sistemas de IA possuam precisão quase mágica, quando na realidade estão limitados por dados históricos e pelas configurações algorítmicas. O segundo diz respeito à tendência de reforçar padrões históricos, restringindo a capacidade de reconhecer fenômenos emergentes ou mudanças sociais. Em ambos os casos, há implicações éticas sérias sobre a inovação, a diversidade e a equidade.
Nesse sentido, integrar IA à tomada de decisões sociais e jurídicas exige promover transparência, interpretabilidade e explicabilidade, para garantir uso justo e responsável das tecnologias, protegendo direitos e fortalecendo a inclusão social.
Outro tema central do CEFIA é a integração de tecnologias digitais e IA na educação, que suscita debates filosóficos sobre a natureza da aprendizagem humana. A hipótese da hipocognição sugere que a crescente dependência de artefatos cognitivos pode levar a um declínio das capacidades cognitivas humanas.
O conceito de mente estendida, de Andy Clark e David Chalmers, defende que o ambiente — incluindo ferramentas tecnológicas — é parte integrante da cognição. Clark aprofunda essa visão ao propor a ideia de uma mente híbrida, composta pelo cérebro biológico e por estímulos externos não biológicos. Aplicada à educação, essa perspectiva indica que computadores, smartphones e IA podem ampliar as capacidades cognitivas dos alunos.
No entanto, persiste a questão: essa ampliação é sustentável ou pode resultar no declínio cognitivo previsto pela hipocognição? Miguel Nicolelis (2020) alerta que a interação contínua com algoritmos pode “desmantelar o aparato neural orgânico” e gerar “zumbis digitais biológicos”. Por outro lado, a visão de Clark aponta para oportunidades de enriquecer a cognição, promovendo ambientes de aprendizagem inclusivos, colaborativos e adaptáveis.
O desafio, portanto, está em equilibrar o uso de tecnologias com métodos que estimulem reflexão, imaginação e pensamento crítico. A educação deve incorporar recursos digitais de forma consciente, maximizando seu potencial sem negligenciar o desenvolvimento das habilidades humanas fundamentais. A hipótese da hipocognição serve, assim, como alerta para os riscos da dependência excessiva, ao mesmo tempo que convida à construção de um modelo educacional que integre tecnologia e cognição de maneira saudável e sustentável.
- Filosofia da Inteligência Artificial
- Cognição e Inteligência Artificial
O Centro de Pesquisa em Filosofia da Inteligência Artificial e Futuro da Humanidade possui os seguintes objetivos: a) consolidar o desenvolvimento do CEFIA, projeto vinculado às pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Filosofia em parceria com outros PPGs da PUCPR; b) efetivar a atuação do CEFIA a partir de acordos de colaboração com outros centros de pesquisa multidisciplinar, entre os quais o TEC Technology Ethics Center (University of Notre Dame), o Future of Humanity Institute (University of Oxford), o Centre of Philosophy (CFUL, University of Lisbon), o The Posthumanism Hub (University of New York) e o GIFT-H+ Grupo de Investigações Filosóficas sobre Transumanismo e Biomelhoramento Humano (FIOCRUZ-RJ); c) apoiar visitas de interesse técnico e acadêmico dos pesquisadores do PPGF aos locais anteriormente mencionados, de seus pesquisadores membros e estudantes vinculados à outras Instituições de Ensino; d) fomentar publicações e eventos multidisciplinares para disseminar os resultados das pesquisas em filosofia que estejam vinculadas a questões em áreas como educação, direito, ciência da computação, psicologia, entre outras.
O legado da tradição cartesiana, de modo geral, foi responsável por cindir a cognição de outros fenômenos e processos, como o corpo e o ambiente. Essa separação acabou tornando o tema da subjetividade um elemento desenraizado da profunda simbiose biotecnológica entre nossos cérebros e os artefatos não biológicos.
O avanço das Ciências Cognitivas — especialmente da Filosofia da Mente e de suas preocupações epistemológicas e éticas — coincide com o progressivo abandono da velha dicotomia cartesiana entre mente e corpo. Essa mudança leva à recusa da tese de que os mecanismos da cognição e os argumentos sobre a ideia de self possam ser encontrados apenas “dentro da pele ou do crânio” (Clark, 2008; Theiner; Allen; Goldstone, 2010; Hutchins, 2011; Gallagher, 2013).
Entre as abordagens que se destacam nesse contexto, está a cognição incorporada (Embodied Cognition), cada vez mais presente nas produções acadêmicas e sustentada por diferentes proponentes e variações. Nesse entendimento, cognição, corpo e mundo tornam-se interdependentes. No Programa de Pós-Graduação em Filosofia da PUCPR, as pesquisas sobre cognição incorporada defendem que a possibilidade de modificar o ambiente, por meio da ação dos organismos, confere aos artefatos a característica de “suportes cognitivos”. Esses suportes passam a integrar operações cognitivas estendidas, incorporando estruturas e processos externos às rotinas cognitivas de um agente.
Essa hipótese implica reconhecer que os seres humanos são permeáveis não apenas no plano biológico, mas também no plano cognitivo, incorporando aparatos externos não biológicos (Varela; Thompson; Rosch, 1991; Hutchins, 1996; Thompson, 2007; Shapiro, 2011). Isso não significa que elementos externos desempenhem funções idênticas às do organismo biológico, mas sim que suas codificações podem se integrar profundamente às estratégias de raciocínio, ao desenvolvimento de habilidades motoras e às operações cognitivas moldadas ao longo da história evolutiva e cultural da humanidade.
Dessa perspectiva, a cognição situada — da qual a cognição incorporada faz parte — sustenta que mentes e selves estão distribuídos pelo cérebro biológico e por circuitos não biológicos. Assim, a ideia de um limite rígido entre “onde a mente termina e o mundo começa” revela-se epistemologicamente ingênua. A fusão biotecnológica da cognição com redes de símbolos, cultura e tecnologia constitui um hibridismo entre a natureza biológica humana e um ecossistema linguístico, cultural e tecnológico multifacetado.
Tendo como objeto de investigação essa arquitetura de problemas, este projeto também se volta aos desafios éticos relacionados à Convergência Tecnológica (Technological Convergence), à Cognição 4E (Embodied, Embedded, Enactive and Extended) e ao Aprimoramento Humano (Human Enhancement). Ao recusar as abordagens tradicionais das Ciências Cognitivas — que tratam a cognição como produto exclusivo do organismo biológico —, busca-se compreender como as interações entre procedimentos tecnológicos e a hipótese da cognição incorporada redesenham o debate sobre transumanismo, tecnofobia e concepções clássicas de identidade, subjetividade e responsabilidade.
O CEFIA, fundado em março de 2025, tem como missão abordar a relação entre direito, ética e inteligência artificial (IA), enfrentando a complexidade e os desafios impostos pela opacidade dos sistemas algorítmicos. A metáfora da “caixa-preta” da IA expressa a dificuldade de compreender processos internos de sistemas que frequentemente operam de forma autônoma e sem transparência, levantando preocupações éticas e jurídicas relevantes.
No campo jurídico, a opacidade algorítmica contrasta com a necessidade de transparência e explicabilidade para assegurar justiça e responsabilização. A falta de clareza não apenas dificulta a justificativa de decisões automatizadas, mas também pode perpetuar vieses e discriminações — especialmente em áreas sensíveis, como o Judiciário, onde decisões sobre liberdade condicional ou concessão de crédito podem ser influenciadas por processos obscuros.
A ética aplicada à IA requer evitar dois riscos principais: o “determinismo encantado” e a “ditadura do passado”. O primeiro refere-se à ilusão de que sistemas de IA possuam precisão quase mágica, quando na realidade estão limitados por dados históricos e pelas configurações algorítmicas. O segundo diz respeito à tendência de reforçar padrões históricos, restringindo a capacidade de reconhecer fenômenos emergentes ou mudanças sociais. Em ambos os casos, há implicações éticas sérias sobre a inovação, a diversidade e a equidade.
Nesse sentido, integrar IA à tomada de decisões sociais e jurídicas exige promover transparência, interpretabilidade e explicabilidade, para garantir uso justo e responsável das tecnologias, protegendo direitos e fortalecendo a inclusão social.
Outro tema central do CEFIA é a integração de tecnologias digitais e IA na educação, que suscita debates filosóficos sobre a natureza da aprendizagem humana. A hipótese da hipocognição sugere que a crescente dependência de artefatos cognitivos pode levar a um declínio das capacidades cognitivas humanas.
O conceito de mente estendida, de Andy Clark e David Chalmers, defende que o ambiente — incluindo ferramentas tecnológicas — é parte integrante da cognição. Clark aprofunda essa visão ao propor a ideia de uma mente híbrida, composta pelo cérebro biológico e por estímulos externos não biológicos. Aplicada à educação, essa perspectiva indica que computadores, smartphones e IA podem ampliar as capacidades cognitivas dos alunos.
No entanto, persiste a questão: essa ampliação é sustentável ou pode resultar no declínio cognitivo previsto pela hipocognição? Miguel Nicolelis (2020) alerta que a interação contínua com algoritmos pode “desmantelar o aparato neural orgânico” e gerar “zumbis digitais biológicos”. Por outro lado, a visão de Clark aponta para oportunidades de enriquecer a cognição, promovendo ambientes de aprendizagem inclusivos, colaborativos e adaptáveis.
O desafio, portanto, está em equilibrar o uso de tecnologias com métodos que estimulem reflexão, imaginação e pensamento crítico. A educação deve incorporar recursos digitais de forma consciente, maximizando seu potencial sem negligenciar o desenvolvimento das habilidades humanas fundamentais. A hipótese da hipocognição serve, assim, como alerta para os riscos da dependência excessiva, ao mesmo tempo que convida à construção de um modelo educacional que integre tecnologia e cognição de maneira saudável e sustentável.
- Filosofia da Inteligência Artificial
- Cognição e Inteligência Artificial
Cooperação Internacional
O CEFIA mantém parcerias estratégicas com centros internacionais renomados, como o Future of Humanity Institute (Oxford), o TEC (University of Notre Dame) e o The Posthumanism Hub (University of New York). Essas colaborações visam intercâmbios acadêmicos, pesquisas conjuntas, eventos científicos e publicações internacionais.
Equipe fundadora e coordenação